Medalha Milagrosa
DEPOIMENTO POR LOU AMARAL JUDICE
"Ganhei uma medalha de minha mãe, que a comprou direto no famoso endereço de sua cunhagem na Rue de Bec, 140 em Paris.
Em toda uma vida, com a medalha no peito, em uma corrente, acumulei incríveis provas do quanto esta peça era realmente, milagrosa.
Isso mudou, em minha percepção, a idéia de realidade."
Nasci com asma e, desde 1 ano de idade, baixava em Pronto Socorro de madrugada, com crise muito fortes.
Minha mãe, muito religiosa, justificou o presente dado para mim, quando ainda era uma criança: "esta Medalha Milagrosa vai te proteger."
Ela foi comprada na capela dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, em Paris. Construido em 1813, alí também está o Palacete de Châtillon que tornou-se a Casa-Mãe da Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Minha mãe contou toda a impressionante história:
Em 1830, Catarina Labouré, recebeu a graça de ver São Vicente de Paulo. Durante todo o tempo, no Seminário, ela viu o Cristo presente na Eucaristia mas não recebeu nenhuma mensagem específica. Neste mesmo ano, ela teve três visões onde a Santíssima Virgem lhe confia o modelo da "Medalha Milagrosa".
Há milhares de depoimentos e fatos extraordinários sobre a medalha mas o que primeiro a tornou famosa foi a distribuição de 1500 destas peças cunhadas, entre pacientes da peste de cólera que matou mais de 18 mil pessoas em Paris no início do século XIX. Na mesma hora, a peste foi revertida e contida de um modo tal que em 1876, ano da morte de Santa Catarina Labouré, mais de um bilhão de Medalhas Milagrosas já se espalhavam mundo.
Quando recebi a medalha, minha mãe me contou a história. Como eu era muito pequenina, o grau de confiança em minha mãe me deixou crer, sem nenhuma alteração de percepção, que eu poderia obter milhares. Como Labouré.
Como eu a acompanhava nas missas de domingo, logo aprendi a respeitar a imagem que via na capela. Era uma estátua de Nossa Senhora, igual à da medalha. Por toda a minha vida, até virar adulta, usei num icordão no seu peito. Ela deveria ser mantida perto do peito porque, na visão de Santa Catarina, a própria Nossa Senhora lhe recomendou isso, que as pessoas deviam usar assim. A simples idéia de sair de casa sem ela, me afligia. Mas isso, muito longe de ser ruim, potencializou atividades enormes de proteção, não importando para mi se eram fatos naturais ou provocados.
Passei a me relacionar com a fé. Isso foi um importante passo.
Principalmente na alma pura de uma criança, promove milagres incríveis. Isso nós já sabemos. Assim, o que me lembro bem é de esfregá-la muito, com tamanha força, quando minha mãe demorava a chegar com meu pai de algum evento, de noite. Ficava com medo que ela não voltasse e pedia muito à medalinha que protegesse mamãe. O curioso é que sabia que papai estava seguro. Minha aflição era com minha mãe. Foi o primeiro contato forte que tive com a fé e a medalha era meu grande apoio.
Como brincava muito, o cordão (mais ou menos grande) sempre agarrava em algo e volta e meia arrebentava, soltando a medalha. Com uns 5 ou 6 anos, nesta mesma época em que eu tinha as aflições quando minha mãe não estava em casa a noite, estava na praia com a medalha no peito e o cordão arrebentou na margem do mar. Uma onda logo veio e para minha extrema agonia, a medalha sumiu em meio à espuma densa. Aflita, pedi - mentalmente - que ela não sumisse e mergulhei a mão na espuma densa da onda atingindo a areia com sacrifício para não engolir água. A onda desceu e para espanto da babá Teresa e dos que assistiram a cena, a medalha estava na superfície da areia, me esperando. O mar nem levou nem enterrou. Com o volume da água da onda, ela teria, no mínimo, se enterrado ela na areia. Mas seja lá como for, o que eu senti na hora foi o efeito de uma fé enorme que me dizia que ela não se separaria de mim. Quando cheguei em casa contei para minha mãe. Para mim foi um contato real com a força da fé e do poder da medalha que nunca largava.
Ela tinha um excelente banho de prata mas com o uso, de toda uma vida, e de tanto esfregá-la com os dedos num ato de fé que fiz e faço até hoje, ela perdeu a cor e ficou o estanho. Já pensei em fazer o banho de prata de novo mas como ela ficou desgastada pelo uso, ia perder estes detalhes do alto relevo dela. Conheço dezenas de pessoas que têm esta medalha mas nenhuma foi tão "usada"- digamos assim - como esta... (risos).
A história que mais me impressionou e que, igualmente, teve testemunhas, foi uma que me aconteceu quando eu tinha uns 21 anos. Estávamos em Angra dos Reis, numa lancha, em alto mar. O marinheiro parou para mergulharmos num local cuja profundidade assustava já que era mesmo alto mar. Estava no convés encostada no gradio de apoio com um copo de alguma bebida nas mãos quando, sem querer, um movimento brusco me fez arrebentar o cordão e a medalha caiu no azul profundo da água.
Nem pensei. Mergulhei imediatamente e ainda ouvi alguma manifestação das pessoas dizendo "não!" num alerta de que era bobagem fazer aquilo, além de arriscado. Por maior que tenha sido meu reflexo, a medalha afundaria muito rápido. Ela mede quase 4 cm e é muito pesada. A cena que me recordo, até hoje, no mergulho profundo que dei, era ela flutuando como uma folha de papelão. A cena que guardo na memória, era toda em câmera lenta. Tinha um profundo azul, uma luz forte vinda do sol e ela, literalmente, flutuando.
A coisa toda, para meu ego, foi um veneno. O espanto das pessoas me tornava assim uma pessoa sei lá, poderosa entende? Hoje, mais de 40 anos depois, eu entendi porque ela se soltou ali e me fez renovar a fé. Mais ou menos como alguém que põe a mão no seu queixo e te faz olhar pro céu. Era uma época só de festa... mas meu caráter e personalidade estavam ainda em construção. Só via o presente entre festas, bebidas e uma sensação de que aquele mundo mágico era tudo o que queria e me bastava para ser feliz. Cada vez que a força de algum milagre de minha medalha se manifestava, eu parava para pensar um pouco na vida. Entendia que precisava aprofundar os propósitos.
Hoje em dia, ela fica guardada na minha gaveta como uma preciosidade. Mas sempre me acompanha em viagens e recorro à ela em situações de stress e aflição. O que não contei é que sempre, sempre, sempre... quando botava a mão no peito ou a lavava no banho, em qualquer situação, a beijava. Até hoje, se abro a gaveta e a vejo, dou um beijo que me traz uma imensa sensação de paz.
E ah... deixa lhe contar: a "lenda" da minha medalha milagrosa é tão conhecida que ela já passeou de avião com filhos, já ficou escondidinha na fronha de minha mãe no hospital e a toda hora alguém recorre à ela. Acho, sinceramente, que é a melhor herança que tenho a deixar para alguém na vida (risos).
Medalha Milagrosa ficou "gasta" com décadas de dedicação.